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- Software como uma agência
No momento que estamos vivendo os clientes querem respostas rápidas e nem sempre se tem o tempo adequado para iniciar estudos sempre do início. Os dias no SXSW 2016 estão bem intensos e com muita informação para absorver. Um painel em específico me chamou a atenção por seu título, “Software as an agency”. Fui conferir o conteúdo, mesmo sabendo que a palestra seria fora do centro de convenções e dos principais hotéis, que costumam agregar as melhores palestras. A sessão aconteceu no Old School Bar, um lugar modesto que fica 6th Ave, lugar mais conhecido por sua vida noturna de bares e baladas do que por acomodar boas palestras. O nome do bar não ajudava muito a imaginar que ali eu teria alguma aula de algo inovador, ou pelo menos atual. Mas o assunto me interessava e resolvi arriscar. Fui lá conferir. O palestrante foi Cory Clarke, um conhecedor do mundo de agências e de tecnologia. Ele iniciou a conversa falando sobre algumas oportunidades que a tecnologia pode ajudar a transformar o negócio de agência. Todos nós sabemos que as agências de publicidade têm buscado se digitalizar para fazer frente as mudanças tecnológicas da atualidade. Mas de acordo com Clarke, nosso modelo operacional real não tem se transformado com a vinda da tecnologia. As agencias que estão experimentando um crescimento acelerado fazem parte de um tipo específico de empresas. São agências que estão se renovando a aprendendo com as empresas de tecnologia, aplicando processos que já funcionaram no mundo do desenvolvimento tecnológico. Isto não passa apenas por adotar metodologias como Agile, como Scrum ou Lean. Isto pode ajudar, mas não resolve o negócio das agências. É preciso aprender com as empresas de software o conceito de reaproveitamento de código e de “produtização” das entregas. No momento que estamos vivendo os clientes querem respostas rápidas e nem sempre se tem o tempo adequado para iniciar estudos sempre do início, com dias de imersão no assunto, pesquisas e todas as técnicas que adotamos para levantar os cenários e comportamentos. Para obter esta velocidade de entrega é necessário adotar as técnicas que conhecemos e encapsularmos isto como produtos, prontos para serem consumidos com um mínimo de customização. Clarke apresentou ainda um sistema que foi desenvolvido para a agencia dele e que agora é adotado por outras agencias que tem o objetivo de facilitar este encapsulamento de informações. Este software ajuda na forma como eles concebem marcas e criam experiências de marketing, o que na visão dele, eleva o valor do trabalho a um outro patamar, pois traz além da criatividade a inteligência da equipe em um formato de produto, que o cliente se acostuma a consumi-lo, sabendo o que esperar e o resultado que vai obter com este produto. Mas nada disto adiantaria se não usarmos o que tem de melhor na tecnologia: Informação. O mais importante em se digitalizar uma operação é fazer um bom uso da informação gerada. A vantagem de usarmos entregas estruturadas é que teremos dados estruturados e podemos compara-los e colocar em uma linha do tempo, identificando tendências e comportamentos. Ao ver tudo isto, se percebe o quanto as agencias modernas estão cada vez mais próximas das empresas de tecnologias, deixando de ser apenas agências e passando a transformar diretamente os negócios de seus clientes em um momento que vai muito além do que era antes chamado apenas de conversão para um mundo o digital. Quando o pensamento digital permeia toda a estrutura da agência, mais fácil será ter estes conceitos de “produtização”, metodologias ágeis e bom uso da informação para geração de negócios, pois fará parte desde o início do pensamento de um “programador de marketing” que atuará na conta, se distanciando, claro, de um pensamento “old school” de algum publicitário arraigado ainda em conceitos ultrapassados, onde a tecnologia poderá pouco ajudar. Valeu o tempo e o conteúdo obtido. Mostrou alguns caminhos e certezas sobre o nosso mercado. E eu sigo aqui, correndo para outras palestras.
- O paradigma do estigma
Desde crianças a gente recebe uma porção de informações que ajudam a formar nossas crenças e valores. Por outro lado, a sociedade tem mudado os seus valores de forma muito rápida, e as vezes estas mudanças são contrárias aquilo que temos como estigmas e estereótipos em nossa infância e juventude. Neste caso, temos um paradigma bem interessante. Se deixarmos de acatar as mudanças da sociedade seremos vistos como retrógrados, antiquados e até preconceituosos. Mas se abrirmos mão totalmente de nossos valores e ensinamentos que recebemos, podemos perder um pouco de nossa identidade e crenças. Mas nem tudo precisa ser 8 ou 80. É possível conviver com pensamentos e comportamentos diferentes dos nossos? Cada um de nós carrega uma história recheada de valores e visões do mundo e é de se esperar que estas histórias e valores não sejam iguais para todas as pessoas. Mas vivemos em uma sociedade onde se exige interação diária com pessoas que possuem visões diferentes das nossas, então temos que aprender a conviver com esta diversidade. O principal a ser desenvolvido nesta história é a tolerância. “Se entre a minha verdade, e a verdade do outro, existir a tolerância, os atritos tendem a não acontecer.” O problema é que queremos que nossa verdade sempre prevaleça sobre a verdade do outro e ficamos nesta eterna disputa de verdades. Na maioria das vezes aceitar a diferença é difícil, pois criamos estereótipos e estigmas dos quais temos dificuldade em nos desvencilhar. O wikipedia tem um texto interessante: Há também, estigmas de comportamento que definem e limitam aspectos da vida cotidiana. Por exemplo, a cor rosa no vestuário apenas para mulheres e o futebol como esporte de homens. Mas o que isto tem a ver com o ambiente profissional? Tem tudo a ver. Quem trabalha em empresas grandes tem a oportunidade de conviver com muitos tipos de pessoas. A tendência natural é que os grupos se formem baseado na afinidade de pensamentos e valores, e que estes grupos passem a se defender e defender as suas ideias. Este é um comportamento natural. Mas quando isto passa a ser relevante nas decisões profissionais a empresa começa a perder a credibilidade, pois começam a acontecer promoções por afinidade e não por merecimento, ou desligamentos por não compartilhar as mesmas ideias e não por baixa performance. Este é um risco que as empresas correm se não tomarem cuidado com este tipo de postura. Outro ponto importante é não deixarmos que os estigmas atrapalhem a evolução profissional. As vezes alguns profissionais são taxados e carimbados apenas com um determinado skill e são tolhidos nas oportunidades que exigem outros skills, pois a empresa não os acha capaz de desenvolver outros trabalhos. Mas na verdade o que falta é oportunidade destas pessoas exercerem outras funções. Gosto de citar o caso da atriz austríaca-americana Hedy Lamarr, que foi considerada uma das mulheres mais bonitas da Europa nos anos 1940. Mas a segunda grande guerra fez com que ela tivesse outras oportunidades de mostrar o seu maior talento, que era a matemática. Preocupada com a segurança nas comunicações por rádio, ela foi uma das inventoras de multi-frequência que era necessária na comunicação wireless, iniciando assim a era do pré-mobile. Sem ela não estaríamos usando nossos celulares. Mas o que uma mulher bonita e atriz de 1940 podia entender de matemática e eletrônica? É o mesmo que hoje nos perguntarmos… E o que o estagiário de finanças pode entender de criatividade? Rotular é o mais fácil e o mais errado. Se é difícil não ficar com uma primeira impressão, pelo menos nos devemos dar o direito de formar outras impressões ao longo do tempo e não apenas encaixar aquele indivíduo no grupo A ou grupo B. Certamente carregamos conosco muitos estigmas e conseguir quebrar o paradigma desta visão não é algo simples, mas devemos exercitar esta capacidade todos os dias. Se soubermos aceitar cada um com suas crenças e não tentarmos a todo custo convence-los que as nossas crenças são melhores, certamente acharemos outros pontos em comum que podem nos unir e nos aproximar destas mesmas pessoas. No meio de tudo isto, será que somos capazes de diminuir nossos preconceitos e focar mais nos preceitos do mundo que vivemos?
- Iceberg à vista nas agências digitais
A notícia pode não ser boa para a maioria dos entusiastas defensores do crescente mercado de publicidade digital. As agências digitais estão com dificuldades em continuar sendo competitivas no cenário atual. Não se trata de falta de competência ou falta de esforço dos desbravadores digitais. O problema está no modelo atual que é adotado pelo mercado de provedores de serviços digitais no Brasil. A grande verdade é que as agências digitais são novas se comparadas ao mercado publicitário. Elas se estabeleceram em um mercado recente e não tendo um modelo próprio de negócio, começaram a sofrer uma grande influência das agências tradicionais, que se apoiam ainda fortemente nas receitas advindas de mídias, com seus comissionamentos e bonificações por volume. Nas agências tradicionais, o agenciamento de mídia é o responsável por pagar a conta dos demais serviços, bancando atividades como o Atendimento, Planejamento, Criação e até produção em alguns casos. Este modelo tradicional começou a ser adotado também nas agências digitais, atendendo uma solicitação dos seus clientes, já acostumados com o processo de contratação das agências off-line. A maioria dos clientes entendia que este modelo de remuneração baseado em comissionamento de mídia já era testado e o mais fácil de justificar internamente, pois a responsabilidade de controlar os esforços e entregas de forma a se ajustar no budget de mídia seria das agências, como sempre havia sido. Mesmo as agências digitais que tentam oferecer outro modelo de remuneração, sofrem com o assédio das agências tradicionais aos seus clientes que muitas vezes oferecem o trabalho digital “sem custos”, só para manter a negociação atual baseada na remuneração de mídia. Isto é extremamente tentador para um cliente, pois não precisa mudar em nada seu processo de contratação e ainda “ganha de graça” os trabalhos digitais. Não vou entrar no mérito da qualidade dos trabalhos digitais que são entregues pelas agências mais tradicionais. Isto pode variar de agência para agência, e existem grupos tradicionais que conseguiram se adaptar rapidamente a esta nova realidade, mas não são todos. No entanto, é perfeitamente correto dizer que no nosso mercado não existem coisas “grátis”. De alguma forma se paga por aquilo que se recebe. Ou não se paga, mas também não se recebe. Um ponto que precisa ser refletido pelos clientes, mas que as vezes ingenuamente é aceito pelos clientes que tem metas de redução de custos. O problema maior é que este formato de agenciamento de mídia não é sustentável para as agências digitais, por vários fatores: As agências digitais têm uma característica mais laboral do que as agências tradicionais, pois o bom trabalho em mídia digital ou mídia de performance pode ser comparado a um trabalho em uma bolsa de valores. O termo agência é um termo que pouco faz sentido para as chamadas agências digitais. Talvez devêssemos chama-las de Corretoras Digitais, devido ao dinamismo e responsabilidade pelo resultado que uma operação destas exige. Os volumes de investimento digital no Brasil ainda são muito menores que os valores investidos na mídia tradicional. Isto é fruto de uma falta de conhecimento dos clientes neste assunto, que ainda preferem investir mais em canais de massa do que em canais mais segmentados e personalizados, como os ambientes digitais. Este baixo volume de investimento atual inviabiliza a remuneração baseada em comissionamento de mídia. A conta não fecha. O trabalho nos meios digitais exige a construção ou desenvolvimento destes ambientes, diferentemente da maioria dos veículos off-line, o que torna o trabalho ainda mais específico e trabalhoso. Ainda se tem um trabalho taylor-made para atender cada particularidade do negócio digital em várias disciplinas. Esta multidisciplinaridade dificulta a contratação pela área de marketing tradicional dos clientes, que prefere as vezes manter o investimento apenas em mídias convencionais e sem risco de implementação e ainda não ter que envolver outras áreas da empresa, como TI por exemplo. Se na mídia tradicional normalmente não se tem o controle muito rígido sobre ROI (Sigla em inglês de Retorno sobre o Investimento), no mundo digital a mensuração de resultado é em tempo real, e isto exige cuidado e atenção, tanto da agência como do cliente. Esta é uma responsabilidade que nem todos querem ter. O comércio eletrônico desponta como uma das grandes apostas para o aumento de vendas. Na Europa e nos Estados Unidos o e-commerce representa uma parcela muito substancial dos negócios. No Brasil, este montante ainda tem muito a crescer. Apenas as agências especialistas neste assunto estão conseguindo dar resultados. As agências tradicionais, podem não estar ainda totalmente preparadas para atuarem com eficiência neste segmento, seja pela maior especialidade que se exige ou por não ter um modelo mais justo de remuneração, que neste caso seria o comissionamento por vendas no e-commerce, mas a maioria dos clientes não estão confortáveis com este modelo de remuneração. Ainda se apegam ao comissionamento de mídia, que não funciona para este tipo de atividade. O mundo digital é complexo e cheio de especificidades, como Search Engine Optimization, Plataformas de Business Intelligence, e-Commerce, Search Engine Marketing, Social Media, ambientes digitais complexos, com ambientes logados e controles de segurança. Uma agência digital deveria ser capaz de desenvolver todas estas especificidades, integra-las, gerenciando projetos com todas estas disciplinas, contando com uma equipe robusta e especialista, coisa que não se exige em uma agência tradicional que já conta com um modelo clássico e já testado ao longo de vários anos.A maioria dos pontos que menciono aqui não são novidades para o mercado, mas poucos estão dispostos a mudar este modelo, tanto por parte das agências como pelos clientes. Mas conseguimos ver alguns movimentos interessantes acontecendo. Já percebemos um acréscimo na contratação de empresas verticais, especialista em apenas uma disciplina, onde o modelo de contratação pode ser melhor trabalhado e combinado com aquela especialidade, como por exemplo e-commerce, Social Media, desenvolvimento de plataforma digital ou SEO. Mas e o futuro das agências digitais full-service? Estas vão precisar de reinventar. Primeiramente assumindo que seu modelo não é e nunca foi sustentável se for amparado unicamente no agenciamento de mídia. As agências precisarão caminhar para um modelo de corretagem digital, administrando ativos e valores de seus clientes neste ambiente, fazendo recomendações e operando as ferramentas para gerar os resultados. No momento que isto for entendido pelos clientes e estas empresas digitais, fatalmente o modelo de remuneração terá que ser alterado, buscando uma remuneração mais justa e focada nos resultados obtidos. Com este novo modelo, as empresas poderão ter nos seus fornecedores digitais novos parceiros comerciais, preocupados com seus resultados e uma nova linha de negócios digitais, proporcionando novas fontes de receita, e saindo deste modelo atual onde muitos buscam apenas um fornecedor para cuidar institucionalmente de sua presença na Internet. Esta mudança precisa acontecer nos clientes, mas precisa ser proposta por estas novas empresas digitais, ou o que estamos chamando de Corretoras Digitais. Mesmo neste modelo de corretagem, as agências digitais atuais vão ter que remodelar suas estruturas e começar a pensar seriamente em dividir suas unidades de negócios, com foco especialista e com estratégias de comercialização distintas. Isto não significa que estas unidades não possam compor um Grupo, compartilhando custos de instalação, back office e atendendo full-service as marcas que assim exigirem, mas cada unidade de negócio precisa contar com profissionais distintos na administração e com metas diferenciadas. Desta forma, cada empresa do grupo pode trabalhar melhor o seu modelo de remuneração e fechar acordos com os clientes, seja por success fee, comissionamento, fee por alocação de profissionais ou até agenciamento de mídia, mas dentro de realidade daquela disciplina técnica. O mundo está mudando muito rapidamente e sinceramente acho que este tipo de mudança no mercado já demorou demais para acontecer no nosso mercado. Já ouvi muita gente falando deste caminho, mas poucos colocando em prática e bancando esta revolução. Os resultados financeiros da maioria das agências digitais estão mostrando que elas precisam de reformulação, mas ainda não se sentem confortáveis em como conduzir esta mudança, com receio que esta ruptura afete ainda mais a relação com seus clientes e prospects. Para ajudar, os próprios clientes ainda não estão preparados para esta mudança. Mas é um caminho sem volta e uma das poucas soluções disponíveis para as agências digitais brasileiras. Mas não é só isto. Esta segregação de negócios tem que ser acompanhada do abandono de outras práticas vindas do modelo de publicidade off-line. O modelo de gestão precisa estar mais conectado ao modelo das empresas de tecnologia e de consultoria e muito menos na busca por exposição que temos na maioria das agências de publicidade. Precisamos diminuir os briefings e aumentar as especificações funcionais. Temos que trocar o clássico processo criativo pela metodologia ágil de gerenciamento de projetos. O glamour precisa ser maior na execução do que na criação e a busca por resultado precisa ser maior que a busca por prêmios. Faço votos que este modelo mude logo, e o mercado encontre um formato que seja eficiente para os prestadores de serviços digitais e seus clientes. Se isto não acontecer logo, perderemos uma oportunidade de deixar o mercado mais sustentável e veremos uma quebradeira de empresas digitais, que hoje padecem em um modelo carente de uma reforma transformadora. Muitos mercados mais maduros já estão com este processo de transformação em um estágio muito mais avançado. Resta agora aos nossos empresários tomarem a coragem necessária para fazer este movimento também aqui no Brasil, antes que seja tarde demais.
- Uma indústria que vai além do entretenimento.
Parece que a cada dia sobra menos tempo para nós e ainda sobram assuntos para serem resolvidos. O ritmo que o mundo moderno está nos impondo é muitas vezes acima de nossa capacidade de suporta-lo. Ainda bem que podemos contar com outros bons agitos que servem justamente para compensar esta loucura que se transformou a nossa vida. Existe um mercado enorme que trabalha forte para ofertar opções de contraponto a toda esta correria do dia-a-dia, entregando diversão, alegria e lazer. É a indústria do entretenimento. O foco desta indústria é levar ao seu público uma atração ou um conteúdo relevante, que permita que a diversão o envolva e gere experiências diferenciadas. Mas o desafio é imenso, pois todos querem viver novas experiências e a inovação precisa ser constante para que se mantenha esta sensação do novo e permita ao público a vivência de situações inusitadas. A tecnologia tem ajudado muito neste processo. Não demorou muito para que as grandes marcas entendessem que a indústria do entretenimento consegue esta façanha de gerar boas experiências e estar presente na vida das pessoas em momentos especiais. A parceria com empresas de entretenimento passou a fazer parte da cartilha de desenvolvimento das marcas mais famosas e mais reconhecidas pelo público. Hoje é estratégico ter em seus planos de marketing as ações conjuntas com o mundo do show business e celebridades. O marketing promocional se aproveita muito dessa máquina e procura também se modernizar, a ponto de mudar o seu nome para Live Marketing, que seria algo como incentivar a interação das marcas na vida das pessoas. O mercado ainda tem muito espaço para crescer nesta estratégia de conexão das marcas com o seu público, principalmente se elas apostarem em fazer esta conexão em momentos de lazer, onde o público esteja aberto a novas experiências e que gerem residuais positivos ao longo de seu processo de construção e posicionamento da marca. Quando olhamos para tudo isto, temos a certeza de que seremos cada vez menos expectadores e cada dia mais protagonistas de um espetáculo que não tem fim, proporcionando momentos inesquecíveis em companhia de marcas que sabem da importância de acompanhar este nosso novo estilo de vida. Que a vida acelere, mas que traga junto novas sensações e novas experiências a todos nós.
- Um olhar humano sobre a robótica
No maior evento de tecnologia do mundo, tiveram destaque as discussões em torno do papel dos robôs na fronteira das relações entre pessoas e seres cada vez menos inanimados. Foram quatro dias em Portugal, vendo e ouvindo as novidades no WebSummit, o maior evento de Tecnologia do mundo, com 60.000 participantes de mais de 170 países e que aborda tudo o que já faz parte do nosso presente e, principalmente, o que vai ditar o futuro. Em meio a tudo isso, um tema me chamou mais a atenção: Existe um limite para usarmos os robôs? Estamos vendo o início de uma nova era de escravidão das máquinas? Máquinas têm direitos? Elas podem evoluir a ponto de ter sentimentos? Se a gente se apressa em responder estas perguntas, sem analisar todo o contexto, pode cometer o erro de responder da forma mais simples e nem sempre correta. O tema é complexo, extrapola o uso das máquinas e passa mais pelo enfoque de como os humanos serão afetados com esta nova era robótica. Em sua apresentação, Brian Krzanich, presidente da Intel, afirmou que ainda é cedo para regular a Inteligência Artificial, pois ela ainda está na sua infância, mas também acredita que ela vai mudar o futuro e que os dados vão se tornar “uma das mais valiosas commodities do planeta”. Eu mesmo tenho um robô em casa e pretendo cada vez mais investir nisto. Meu robô limpa todo o piso da casa e sabe tomar decisões autônomas, como ir carregar sua bateria sozinho para depois terminar o trabalho. Mas a geração de robôs que está causando maior sensação são os robôs humanoides que, como o próprio nome diz, se assemelham aos humanos. Há 2 anos eu conheci a Sophia, robô criado por Ben Goertzel, brasileiro radicado nos EUA, e fiquei muito impressionado com a capacidade de expressão e interlocução que ela tem. Pude vê-la novamente no WebSummit 2017, e está ainda mais capaz de estabelecer conversas, olhar para quem está falando com ela e reagir com todas as expressões faciais, discutindo sobre os temas mais variados. Chega a ser assustador. Quando ela foi questionada se é verdade que os robôs pretendem aniquilar a humanidade, ela foi sincera e disse que eles querem fazer coisas boas junto com os humanos, mas que os robôs vão roubar alguns empregos. Se os robôs já nos interpretam, reagem, conversam, andam, o que mais falta para eles estarem na sociedade como se fossem um de nós? Aparentemente, muito pouco. Sophia acaba de ser reconhecida como cidadã na Arábia Saudita. Mas se para os entusiastas da tecnologia isto é um marco para a relação de robôs e humanos, existe já um movimento muito contrário a tudo isto, inclusive criticando o fato de uma humanoide ter maiores direitos que as próprias mulheres da Arábia Saudita. Há ainda quem diga que este reconhecimento ajuda a rebaixar ainda mais os direitos das mulheres e que cada dia mais elas seriam vistas como serviçais, como escravas, assim como as máquinas. Assisti ao intenso (e lotado) debate entre Goertzel e Kathleen Richardson, uma professora de Ética e Cultura de Robôs e Inteligência Artificial. A discussão caminhou para uma linha sobre os robôs sexuais que estão sendo criados já por 5 empresas no mundo e pretendem substituir os humanos nas relações sexuais. Goertzel não vê mal nisso, pois cada um teria o direito de estabelecer suas fantasias e realizá-las sem que precisem envolver outro humano. “Se o robô não tiver um sentido de consciência, como aquele que as pessoas têm, e ainda que seja magoado por uma pessoa, não vejo a necessidade do Governo impedir o homem ou mulher de fazer sexo com ele”, defende o cientista. No contraponto, Kathleen acredita que os robôs sexuais serão o tiro de misericórdia em uma sociedade já doente e que cada vez mais tem problemas de convívio social. “Chegamos a um ponto na nossa sociedade em que não conseguimos dizer o que é ou não misógino. Porque há muitos homens por aí fora que continuam a pensar: afinal, para que servem as mulheres? E se nós mulheres queremos realmente a igualdade de direitos, temos de recusar uma indústria onde a nossa humanidade não é reconhecida”, argumentou a professora. Em sua visão, a crise social do distanciamento entre os indivíduos com a chegada da tecnologia das redes sociais irá ficar ainda mais severa se até as questões íntimas e sexuais forem consumidas na nuvem e dividida apenas com robôs. Mas a discussão é ainda mais ampla. Não se trata apenas de direitos dos robôs ou se eles vão mudar nossa forma de agir entre nós mesmos. Temos questões ainda mais severas a discutir, como por exemplo a nossa própria segurança. No WebSummit foi lançada a SingularityNET, que é uma rede global de inteligência artificial que será utilizada para espalhar o conhecimento adquirido por todos os dispositivos e ser replicado em qualquer robô ou aplicativo que precise. Mais uma vez os entusiastas tecnológicos vibraram com a notícia, pois isto irá permitir uma evolução gigantesca neste processo de ganho de funções e conhecimento de todos os robôs no mundo. Mas isto abre espaço para outra grande preocupação. Se os robôs vão invadir nossas casas, serão colocados para fazer as atividades domésticas, serão nossos assistentes pessoais e até possíveis amantes, me parece razoável que eles também serão destacados para fazer companhias a idosos, cuidar de nossos animais domésticos e até de nossas crianças. Mas os robôs são máquinas programadas e que podem sofrer interferências e ser atacadas por códigos maliciosos, fazendo com que eles sejam usados para crimes como assaltos em residências, pedofilia e até mesmo assassinatos. Pode parecer trágico demais e até improvável que isto aconteça, mas não podemos nos esquecer de casos recentes de bonecas conectadas a internet que foram hackeadas para transmitir conversas que tinham das crianças, expondo sua intimidade na rede. Depois de tudo isto, vou olhar de forma desconfiada para o robô lá de casa, que ao mesmo tempo que limpa todo o piso, mapeia todos os cômodos da minha casa e sabe seu tamanho, exatamente onde tem portas e até os obstáculos no caminho. Ele já sabe demais sobre mim e sobre minha família. Se eu começar a ficar paranoico com isso, vou acabar concordando que os robôs vão mudar a forma como fazemos as coisas, mas vão acima de tudo mudar a forma como a gente vai se relacionar com eles daqui pra frente. Existe um caminho enorme a ser percorrido na tecnologia, mas está na hora de olharmos com mais carinho sobre a legislação e acordos que vão reger esta nossa relação, para nos proteger de nós mesmos no uso indiscriminado na robótica, preservando nossas relações humanas.