O paradigma do estigma
- Rucelmar Reis
- 4 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de nov. de 2022

Desde crianças a gente recebe uma porção de informações que ajudam a formar nossas crenças e valores. Por outro lado, a sociedade tem mudado os seus valores de forma muito rápida, e as vezes estas mudanças são contrárias aquilo que temos como estigmas e estereótipos em nossa infância e juventude.
Neste caso, temos um paradigma bem interessante. Se deixarmos de acatar as mudanças da sociedade seremos vistos como retrógrados, antiquados e até preconceituosos. Mas se abrirmos mão totalmente de nossos valores e ensinamentos que recebemos, podemos perder um pouco de nossa identidade e crenças.
Mas nem tudo precisa ser 8 ou 80.
É possível conviver com pensamentos e comportamentos diferentes dos nossos?
Cada um de nós carrega uma história recheada de valores e visões do mundo e é de se esperar que estas histórias e valores não sejam iguais para todas as pessoas. Mas vivemos em uma sociedade onde se exige interação diária com pessoas que possuem visões diferentes das nossas, então temos que aprender a conviver com esta diversidade.
O principal a ser desenvolvido nesta história é a tolerância.
“Se entre a minha verdade, e a verdade do outro, existir a tolerância, os atritos tendem a não acontecer.”
O problema é que queremos que nossa verdade sempre prevaleça sobre a verdade do outro e ficamos nesta eterna disputa de verdades.
Na maioria das vezes aceitar a diferença é difícil, pois criamos estereótipos e estigmas dos quais temos dificuldade em nos desvencilhar.
O wikipedia tem um texto interessante:
Há também, estigmas de comportamento que definem e limitam aspectos da vida cotidiana. Por exemplo, a cor rosa no vestuário apenas para mulheres e o futebol como esporte de homens.
Mas o que isto tem a ver com o ambiente profissional? Tem tudo a ver.
Quem trabalha em empresas grandes tem a oportunidade de conviver com muitos tipos de pessoas. A tendência natural é que os grupos se formem baseado na afinidade de pensamentos e valores, e que estes grupos passem a se defender e defender as suas ideias. Este é um comportamento natural.
Mas quando isto passa a ser relevante nas decisões profissionais a empresa começa a perder a credibilidade, pois começam a acontecer promoções por afinidade e não por merecimento, ou desligamentos por não compartilhar as mesmas ideias e não por baixa performance. Este é um risco que as empresas correm se não tomarem cuidado com este tipo de postura.
Outro ponto importante é não deixarmos que os estigmas atrapalhem a evolução profissional. As vezes alguns profissionais são taxados e carimbados apenas com um determinado skill e são tolhidos nas oportunidades que exigem outros skills, pois a empresa não os acha capaz de desenvolver outros trabalhos. Mas na verdade o que falta é oportunidade destas pessoas exercerem outras funções.
Gosto de citar o caso da atriz austríaca-americana Hedy Lamarr, que foi considerada uma das mulheres mais bonitas da Europa nos anos 1940.
Mas a segunda grande guerra fez com que ela tivesse outras oportunidades de mostrar o seu maior talento, que era a matemática. Preocupada com a segurança nas comunicações por rádio, ela foi uma das inventoras de multi-frequência que era necessária na comunicação wireless, iniciando assim a era do pré-mobile. Sem ela não estaríamos usando nossos celulares. Mas o que uma mulher bonita e atriz de 1940 podia entender de matemática e eletrônica? É o mesmo que hoje nos perguntarmos… E o que o estagiário de finanças pode entender de criatividade?
Rotular é o mais fácil e o mais errado. Se é difícil não ficar com uma primeira impressão, pelo menos nos devemos dar o direito de formar outras impressões ao longo do tempo e não apenas encaixar aquele indivíduo no grupo A ou grupo B.
Certamente carregamos conosco muitos estigmas e conseguir quebrar o paradigma desta visão não é algo simples, mas devemos exercitar esta capacidade todos os dias.
Se soubermos aceitar cada um com suas crenças e não tentarmos a todo custo convence-los que as nossas crenças são melhores, certamente acharemos outros pontos em comum que podem nos unir e nos aproximar destas mesmas pessoas.
No meio de tudo isto, será que somos capazes de diminuir nossos preconceitos e focar mais nos preceitos do mundo que vivemos?
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